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Fórum do Búfalo Seja bem vindo! Materiais Realistas A Real na Literatura Luso-Brasileira
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A Real na Literatura Luso-Brasileira
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#1
02-05-2014, 08:45 PM
[Imagem: Iacutendice_zps2b821e65.jpg]

A REAL NA LITERATURA DE BRASIL E DE PORTUGAL

Fala confraria.

De uns tempos pra cá, tenho pensado em como estamos, aparentemente, na frente da maioria do mundo ocidental em relação ao conhecimento do Lado Obscuro Feminino.

E isso é algo estranho, já que a Real, no mundo de língua portuguesa, é relativamente novo.

Aí, fui lembrando de algumas obras que li... livros do segundo grau... alguns poucos e bons autores e percebi... a Real sempre esteve presente na nossa cultura, mas de forma sub-reptícia ou simplesmente ignorada pelos nossos educadores.

Mas, exatamente por ser ignorada, jamais foi apagada do ensino... Fuckyeah

Então resolvi juntar todos os livros/autores da Língua Portuguesa que mostraram para nós a Real desde criancinhas, mas que éramos ingênuos demais pra entender.

Percebam que, na maioria das vezes, as obras são sátiras ou comédias; afinal, o homem, além de ser o escravo da sociedade, é o palhaço na cultura.

PS: Com isso, pretendo demonstrar também que a Real faz parte da realidade, sendo que o que temos agora é somente uma síntese pormenorizada do que sempre existiu no Ocidente. Mas que sempre foi tratado como piada, exceção, ou algo que só "acontecia com os outros".
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#2
02-05-2014, 08:56 PM (Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 02-05-2014, 09:10 PM por Rider.)
TROVADORISMO

Da Wikipedia:
Trovadorismo, também conhecido como Primeira Época Medieval, é o primeiro movimento literário da língua portuguesa. Seu surgimento ocorreu no mesmo período em que Portugal começou a despontar como nação independente, no século XII; porém, as suas origens deram-se na Occitânia, de onde se espalhou por praticamente toda a Europa. Apesar disso, a lírica medieval galego-português possuiu características próprias, uma grande produtividade e um número considerável de autores conservados.

Basicamente o Trovadorismo são cantigas em verso feita pelos trovadores da época, falando de amor cortês (a manginação da época), de amigos, dos feitos dos nobres, batalhas, e de religião.

O que nos interessa no Trovadorismo são as cantigas de escárnio e maldizer. Com elas, os trovadores relaxavam um pouquinho da sua posição de cantores pagos (por nobres, pela Igreja ou pelo povo) e tiravam um barato dos costumes e da hipocrisia do tempo deles. Um tempo que, como hoje (e como sempre) as aparências e o que se fala valem mais do que a Verdade e o que se faz.

Encontrei somente dois exemplos que ilustram a Realidade que os artistas já percebiam naquela época:

DONA FEA, VELHA E SANDIA

[Imagem: old-woman-the-queen-of-tunis_zpsb12fbca2.jpg]

Ai dona fea, fostes-vos queixar
que vos nunca louv'en[o] meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei todavia;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!

Dona fea, se Deus mi perdom,
pois havedes [a]tam gram coraçom
que vos eu loe, em esta razom
vos quero já loar todavia;
e vedes qual será a loaçom:
dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei
em meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já um bom cantar farei
em que vos loarei todavia;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!

Pequena Análise: alguma Baleia Jubarte daquela época deve ter reclamado que o trovador só fazia versos para as lindas e jovens donzelas da região, e nenhum para ela. Tadinha! yaoming

"Não seja por isso, ó minha dama", respondeu o trovador. "Já cá farei alguns versos para vós, relatando tudo o que tu és para todos que tenham olhos para olhar e ouvidos para ouvir." trollface

E assim surgiu uma das mais conhecidas canções de escárnio e maldizer. Aposto que todos aqui devem tê-la lido em algum livro do Ginasial. Big Grin

PS: Fiquei com vontade de colocar outra imagem ilustrando a canção, mas poderia acabar arranjando problemas pro fórum... fica o equivalente medieval mesmo. trollface
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#3
02-05-2014, 09:17 PM
TEM UMA DONA

"Tem uma dona, eu não vou dizer qual
que queria ouvir a Missa, pelas oitavas de Natal
mas veio um corvo carniçal
e ela não pôde de casa sair.

Bem que ela queria ouvir o sermão
Mas veio um corvo acarão
e ela não pôde de casa sair.

Bem que ela queria rezar
Mas o corvo disse: "Cá vem cá!"
E ela não pôde de casa sair.

Bem que ela queria sua missa ouvir
mas o corvo veio sobre si
e ela não pôde de casa sair."

Análise: Aqui, fala-se de uma mulher que resolveu ficar em casa a ir ouvir a missa de Natal. Para os inocentes, ela decidiu não sair quando viu um corvo (um mau agouro) vir sobre ela.

Para os mais espertos, esse corvo faminto... por sangue... podia ter sido o amante dela, que se aproveitou que todos estavam na missa pra dar um penta na moçoila, ou mesmo um padre, se aproveitando q todos estavam na missa do colega.

Como vemos, de lá pra cá quase nada mudou... yaoming
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#4
02-05-2014, 09:54 PM
GIL VICENTE


[Imagem: GilVicente_zps2d003c01.jpg]

Até lançar sua primeira obra em 1502, nada se sabia sobre Gil Vicente. A hipótese mais difundida é que ele nasceu por volta de 1465 na região da Beira, em Portugal. Em documentos do século XVI aparecem referências a três pessoas chamadas Gil Vicente: um que participava de torneios poéticos na corte, outro que era ourives, e mais um que era Mestre da Balança da Casa da Moeda de Lisboa. Alguns teóricos defendem que todos se tratam da mesma pessoa, mas não há provas suficientes que comprovem estas hipóteses. Do mais, sabe-se que ele foi casado duas vezes e que teve cinco filhos.

Gil Vicente foi quem desenvolveu e fixou o gênero do auto na dramaturgia de língua portuguesa, vindo a influenciar toda a geração posterior de escritores. Além disso, sua obra é uma fonte rica para se entender a língua e sociedade portuguesa do século XVI, com seus pensamentos, costumes e vícios.

Suas principais obras são: "Auto Pastoril Castelhano" (1502), "Auto da Índia" (1509), "O Velho da Horta" (1512), "Auto da Barca do Inferno" (1517), "Auto da Barca do Purgatório" (1518), "Auto da Barca da Glória" (1519), "Farsa de Inês Pereira" (1523), "Auto Pastoril Português" (1523) e "Farsa do Juiz da Beira" (1525).
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#5
02-05-2014, 09:55 PM
A obra dele que nos interessa é o Auto de Inês Pereira. Achei um resumo dessa peça,no qual irei colocar minhas observações em negrito:

Inês Pereira é uma moça bonita e solteira que se vê obrigada a passar o dia em meio às tarefas domésticas. Inês sempre fica se queixando e vê no casamento a chance de se livrar dessa vida (aqui já revela o Lado Obscuro - não pensa em casar por amor ou por vontade de ter uma família, mas simplesmente para 'mudar de vida'). Ela idealiza o noivo como sendo um moço bem educado, cavalheiro, que soubesse cantar e dançar, enfim, que fosse um fidalgo capaz de lhe dar uma vida feliz (aham. Ela idealiza o noivo como um alpha que iria tirá-la da vida medíocre que leva).

Um dia, Lianor Vaz, a casamenteira, chega na casa de Inês para relatar que Pero Marques, um rico camponês, quer se casar com Inês(beta e mangina: precisou mandar uma mulher no lugar dele mesmo falar com Inês ou com a família dela). A moça, então, lê a carta que Pero escreveu com suas intenções de casamento, mas ela não se conforma com a rusticidade do moço (beta, sem traquejo) e concorda em recebe-lo só para rir da cara dele (Lado Obscuro querendo se divertir um pouco em cima do mangina).

Lianor vai então buscar Pero e, enquanto isso, a mãe de Inês a aconselha a receber bem o pretendente. Quando o moço chega, ele se comporta de modo ridículo e demonstra não ter nenhum traquejo social (beta, beta e beta). Vendo-se à sós com Pero, Inês o desencoraja quanto ao casamento e o moço vai embora. Nisso, ela informa à mãe que havia contratado dois judeus casamenteiros para encontrar um noive que tivesse boas maneiras.

Entra em cena Latão e Vidal, os dois judeus casamenteiros, que vieram oferecer Brás da Mata, um escudeiro (escudeiro = futuro cavaleiro ou fidalgo; ou seja, futuro alpha). Armado o encontro entre os dois jovens, Brás da Mata planeja ir à casa de Inês acompanhado de seu criado, o Moço, e os dois combinam contar uma série de mentiras para enganar a moça e conseguirem dar o “golpe do baú” (ops, o cara não é alpha, mas sim um cafa metido a esperto). Já na casa de Inês, Brás da Mata age conforme ela queria: a trata de modo distinto com belas palavras, pega a viola e canta (alimentando o hamster da mocinha). Ele a pede em casamento, mas a mãe diz que a moça não deve fazê-lo, ao que os judeus contra-argumentam elogiando Brás de todas as formas.

Os dois se casam e a mãe presenteia os noivos com a casa. À sós com Brás, Inês começa a cantar de felicidade, mas ele se irrita e manda que ela fique quieta. Brás começa, então, a impor uma série de regras e exige que a moça fique trancada o dia inteiro em casa, proibindo-a até mesmo de olhar pela janela e de ir à missa. Pouco tempo depois, Brás informa ao Moço que partiria para a guerra, ordenando que ele vigiasse Inês e que ela deveria ficar trancada à chaves dentro de casa. Trancada em casa e não fazendo nada além de costurar, Inês lamenta e sua sorte e deseja a morte do marido para que pudesse mudar seu destino (cafajeste violento, opressor e ciumento - tudo que ela queria, certo?.
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#6
02-05-2014, 09:56 PM (Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 03-05-2014, 01:21 PM por Rider.)
Passado algum tempo, Moço aparece com uma carta do irmão de Inês onde ele informa que Brás havia morrido covardemente tentando fugir do combate. Feliz, Inês despede Moço, que vai embora lamentando seu azar. Então, sabendo que Inês havia ficado viúva, Lianor Vaz retorna oferecendo novamente Pero Marques como novo marido. Dessa vez Inês aceita e os dois se casam (diferente das M$ols atuais, ela até que aprendeu rapidinho: melhor um beta na mão do que um cafa a oprimindo).

Com a ampla liberdade que o marido lhe dava, Inês parecia levar a vida que sempre desejou. Um dia, chega em sua casa um Ermitão a pedir esmola e Inês vai atende-lo. Porém, este é um falso padre e o deus que ele venerava, na realidade, era o Cupido. Inês reconhece o moço, que havia sido um antigo namorado seu. Ele diz que só havia se tornado ermitão porque ela o havia abandonado e começa a se insinuar para Inês, acariciando-a e pedindo um encontro entre os dois. Ela aceita e os dois marcam um encontro (Beta bucks, Alpha fucks!).

No dia marcado, Inês pede a Pero Marques que a levasse à ermida dizendo que era por devoção religiosa. O marido consente (beta, mangina, e burro...) e os dois partem de imediato. Para atravessar um rio que havia no meio do caminho, Pero Marques carrega a mulher nas costas e essa vai cantando uma canção alusiva à infidelidade dela ao marido e à mansidão dele:

Põe-se Inês Pereira às costas do marido, e diz:
Inês — Marido, assi me levade.

Pêro — Ides à vossa vontade?

Inês — Como estar no Paraíso!

Pêro — Muito folgo eu com isso.

Inês --Esperade ora, esperade!
Olhai que lousas aquelas,
Pera poer as talhas nelas!

Pêro — Quereis que as leve?

Inês -- Si.
Uma aqui e outra aqui.
Oh como folgo com elas!
Cantemos, marido, quereis?

Pêro — Eu não saberei entoar..

Inês - Pois eu hei só de cantar
E vós me respondereis
Cada vez que eu acabar: “Pois assi se fazem as cousas”.

Canta Inês Pereira:
Inês — “Marido cuco me levades (cuco = cuckold???)
E mais duas lousas.”

Pêro — “Pois assi se fazem as cousas.”

Inês - “Bem sabedes vós, marido,
Quanto vos amo.
Sempre fostes percebido
Pera gamo. = mas chifrudo
Carregado ides, noss'amo,
Com duas lousas.”

Pêro — “Pois assi se fazem as cousas”

Inês - “Bem sabedes vós, marido,
Quanto vos quero.
Sempre fostes percebido
Pera cervo. = para galhudo
Agora vos tomou o demo
Com duas lousas.”

Pêro — “Pois assi se fazem as cousas.”

E assi se vão, e se acaba o dito Auto.

MORAL DA HISTÓRIA: vadias, cafajestes, e betas manginas existem desde que o mundo é mundo. Só nos faltava a Real olhos para vê-los. yaoming

fonte do resumo: http://guiadoestudante.abril.com.br/estu...0290.shtml
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Offline Ray Palmer
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#7
02-05-2014, 10:16 PM
EXCELENTE!!!
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#8
02-05-2014, 10:35 PM
Muito boa iniciativa! Adoro essas obras em português arcaico! Um dos poucos livros que eu ja reli foi O Auto da Barca do Inferno, mete a real nos próprios cristãos atuais, que andam muito molengas, dá prá perceber que antigamente o buraco era mais embaixo.

Continue postando a Real Medieval!
TRUE OUTSPEAK - MARXISMO CULTURAL - DESATRACADO -  NOVA DIREITA CULTURAL

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Offline Rider
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#9
02-05-2014, 10:43 PM
(02-05-2014, 10:35 PM)Vasiliy Zaytsev Escreveu: Muito boa iniciativa! Adoro essas obras em português arcaico! Um dos poucos livros que eu ja reli foi O Auto da Barca do Inferno, mete a real nos próprios cristãos atuais, que andam muito molengas, dá prá perceber que antigamente o buraco era mais embaixo.

Continue postando a Real Medieval!

Confrade, nem sou especialista em literatura medieval. Essas q coloquei eram as que eu me lembrava.

Todos podem contribuir no tópico, como vc já leu esse Auto, podia colocar uma análise dele aqui. Cool

E pretendo colocar toda obra q eu conseguir encontrar a Real nas entrelinhas; assim q tiver mais tempo vou colocar Nelson Rodrigues e Rubem Fonseca.
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Offline Ray Palmer
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#10
02-05-2014, 10:59 PM
Não podemos nos esquecer do maior poeta português!

Soneto de Luís Vaz de Camões sobre o amor:

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor?

Resumo:

O poeta já começa ressaltando a natureza contraditória do amor. "Arde sem se ver, dói e não se sente...", ou seja, é interno, seus efeitos imediatos são invisíveis aos olhos dos outros, mas pra quem o experimenta as consequências são bem claras.

No segundo quarteto ele continua expondo a natureza contraditória do amor, e finaliza dizendo: "É cuidar que se ganha em se perder;", ou seja, amar, ou estar apaixonado, é se convencer que está ganhando algo enquanto na verdade se está perdendo.

O primeiro terceto ele já começa expondo o segredo da paixão, a conivência da "vítima". "É querer estar preso por vontade". A paixão faz com que o apaixonado queira estar apaixonado, e a mera propabilidade da paixão ser perdida causa desconforto no próprio apaixonado. Ele continua: "É servir a quem vence, o vencedor;". Não estou certo quanto a esta frase, mas me parece que o vencedor é o apaixonado, e quem "vence o vencedor" é justamente aquele que é o objeto de paixão. Ou seja, o apaixonado serve a quem o venceu, àquele que despertou sua paixão. Neste contexto, ele finaliza o primeiro terceto: "É ter por quem nos mata lealdade".

Ele finaliza como começou, ressaltando a contradição do amor. Como o amor, que desperta esse mundaréu de contradições no coração das pessoas, pode também despertar a união? Como esse sentimento pode fazer com que pessoas se unam?

Sou apenas um leitor leigo, os confrades mais experientes em literatura podem corrigir caso eu tenha falado besteira.
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Offline ohomemquecopia
A Real é na pexera
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#11
02-05-2014, 11:38 PM
Tópico muito bom.

Lembrando uma obra da literatura brasileira: Memórias Póstumas de Brás Cubas é Real Direto e reto....Li quando tava no ensino médio e já fiquei meio perturbado (na época um puta manginão) com as reais do livro, vou reler daqui algum tempo.
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Offline Tiago Sorine
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#12
03-05-2014, 12:19 AM
Excelente!!
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Offline Gekko
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#13
03-05-2014, 06:31 AM
(02-05-2014, 11:38 PM)Shadow Escreveu: Tópico muito bom.

Lembrando uma obra da literatura brasileira: Memórias Póstumas de Brás Cubas é Real Direto e reto....Li quando tava no ensino médio e já fiquei meio perturbado (na época um puta manginão) com as reais do livro, vou reler daqui algum tempo.



A obra machadiana é a real na lata. Não é à toa que pertence à escola literária que ficou conhecida como Realismo. A natureza feminina, a busca pelo alfa/cafa, a competição e o sofrimento masculinos com os jogos e indefinições, tudo isso pode ser visto no personagem Bentinho, em Dom Casmurro.

E o que dizer da busca por emoções na obra do escritor luso Eça de Queiroz, O Primo Basílio? A mulher casada com um beta provedor honrado e se envolve com o primo cafa em busca de emoções, sendo que o livro mostra passo a passo como se dá esse envolvimento a nível emocional/psicológico e deixa o físico/carnal quase subentendido.

Quem não leu, leia ao menos Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas e O Primo Basílio.
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Offline Rider
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#14
03-05-2014, 01:29 PM
GREGÓRIO DE MATOS GUERRA - O BOCA DO INFERNO

[Imagem: gregoriodematos_zps48f095b4.jpg]

Biografia tirada daqui: http://www.revistabrasileiros.com.br/201...2UV4FeTJ4c

"Ele foi o primeiro poeta brasileiro. Nasceu no Brasil, escreveu sobre o Brasil e o povo brasileiro, com uma fala abrasileirada. Cunhou as primeiras palavras brasileiras. Amou e foi amado pelo Brasil, que odiou e por quem foi odiado. Como bom brasileiro colonial, era arruaceiro, gozador, festeiro, femeeiro, apaixonado, religioso, irreverente e, para mostrar o quanto era viril, abusava das palavras chulas, conforme o costume lusitano. Também um homem refinado, sensível, dotado de elevados sentimentos e vasta cultura.

Zombava de tudo que lhe desse motivo: um vigário que comprava seu cargo, homens que jogavam pedras nas janelas do palácio, um capitão preso por roubar, a chegada de um novo governador… Se umas negras bailavam ao redor da fogueira, alguém pedia: “Satiriza, poeta!”. E Gregório de Matos compunha de improviso uma poesia fabulosa, entre apaixonada e ultrajante, ironizando o instinto sexual que dominava a cidade e a ele mesmo. Mandavam-lhe motes para glosar, temas para solfejar, queixas para cantar em sua lira maldizente. Dotado de musicalidade e ritmo, ele era a voz da cidade, o tradutor do povo, a mais torpe e pura flor literária.

Apesar de terem dito dele as piores difamações – pessimista objetivo, alma maligna, caráter rancoroso, relaxado por temperamento e costumes, um notabilíssimo canalha, reles boêmio, quase louco, sujo, maltrapilho, bajulador, plagiador, impublicável, uma farsa, desaforado, virulento, tudo isso entre aspas –, ele era acima de tudo um homem corajoso ao ponto de desancar grandes e miúdas patifarias, como disse James Amado. Ousava satirizar a todos, numa época em que uma frase às vezes bastava para a morte na fogueira. Não poupava pobres nem ricos, nem brancos, mulatos, pardos, pretos, religiosos ou ateus, governantes ou governados. Atacava todos os poderes e instituições, vícios e virtudes, atacava a si mesmo. Nem Deus escapou à sua verve. Por isso, Gregório de Matos ganhou o apelido “O Boca do Inferno” e muitos inimigos."

Basicamente, Gregório de Matos foi o típico "brasileiro gozador e folgado" que todos nós conhecemos aos montes por aí, com a diferença que ele era genial. A mesma coisa que diziam de Mozart - que podiam interrompê-lo numa partida de bilhar, pedir para ele escrever uma sinfonia, e ele a escrevia em 10 minutos - pode-se dizer do Boca do Inferno, que ao ver uma mulata dançando ou os costumes dos baianos ao andar na rua, improvisava uma poesia que iria atravessar os séculos.

Como bom barroco, os poemas dele variam dos louvores e pedidos de perdão à Deus até as zoeiras com todos da Bahia, desde o Governador até as mucamas. Se ele perdoou alguém, foi porque ele não se lembrou desse alguém. yaoming

É só lermos alguns poemas de Gregório para vermos que NADA mudou na alma brasileira dos 1600s para cá.
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03-05-2014, 01:31 PM (Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 03-05-2014, 01:45 PM por Rider.)
À cidade da Bahia
A cada canto um grande conselheiro.
que nos quer governar cabana, e vinha,
não sabem governar sua cozinha,
e podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um frequentado olheiro,
que a vida do vizinho, e da vizinha
pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
para a levar à Praça, e ao Terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,
trazidos pelos pés os homens nobres,
posta nas palmas toda a picardia.

Estupendas usuras nos mercados,
todos, os que não furtam, muito pobres,
e eis aqui a cidade da Bahia.

Epílogos (Juízo anatômico dos achaques que padecia o corpo da república)
Que falta nesta cidade?... Verdade.
Que mais por sua desonra?... Honra.
Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.

O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.

Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio.
Quem causa tal perdição?... Ambição.
E no meio desta loucura?... Usura.

Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe que perdeu
Negócio, ambição, usura.

Quais são seus doces objetos?... Pretos.
Tem outros bens mais maciços?... Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos?... Mulatos.

Dou ao Demo os insensatos,
Dou ao Demo o povo asnal,
Que estima por cabedal,
Pretos, mestiços, mulatos.

Quem faz os círios mesquinhos?... Meirinhos.
Quem faz as farinhas tardas?... Guardas.
Quem as tem nos aposentos?... Sargentos.

Os círios lá vem aos centos,
E a terra fica esfaimando,
Porque os vão atravessando
Meirinhos, guardas, sargentos.

E que justiça a resguarda?... Bastarda.
É grátis distribuída?... Vendida.
Que tem, que a todos assusta?... Injusta.

Valha-nos Deus, o que custa
O que El-Rei nos dá de graça.
Que anda a Justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.

Que vai pela clerezia?... Simonia.
E pelos membros da Igreja?... Inveja.
Cuidei que mais se lhe punha?... Unha

Sazonada caramunha,
Enfim, que na Santa Sé
O que mais se pratica é
Simonia, inveja e unha.

E nos frades há manqueiras?... Freiras.
Em que ocupam os serões?... Sermões.
Não se ocupam em disputas?... Putas.

Com palavras dissolutas
Me concluo na verdade,
Que as lidas todas de um frade
São freiras, sermões e putas.

O açúcar já acabou?... Baixou.
E o dinheiro se extinguiu?... Subiu.
Logo já convalesceu?... Morreu.

À Bahia aconteceu
O que a um doente acontece:
Cai na cama, e o mal cresce,
Baixou, subiu, morreu.

A Câmara não acode?... Não pode.
Pois não tem todo o poder?... Não quer.
É que o Governo a convence?... Não vence.

Quem haverá que tal pense,
Que uma câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, não vence.

X – CONTEMPLANDO NAS COISAS DO MUNDO DESDE O SEU RETIRO, LHE ATIRA COM O SEU APAGE, COMO QUEM A NADA ESCAPOU DA TORMENTA.

Neste mundo é mais rico, o que mais rapa;
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa; (“carepa” – sujeira)
Com sua língua ao nobre o vil decepa;
O velhaco maior sempre tem capa.

Mostra o patife da nobreza o mapa;
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.

A flor baixa se inculca por Tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa;
Mais isento se mostra, o que mais chupa.

Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.
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#16
03-05-2014, 01:42 PM (Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 03-05-2014, 01:43 PM por Rider.)
Poemas Eróticos de Gregório de Matos

“Tudo é bebedice,
ou tudo uma borracheira
que se acaba co’o dormir,
e co’o dormir se começa.

O Amor é finalmente
Um embaraço de pernas,
Uma união de barrigas,
Um breve tremor de artérias.

Uma confusão de bocas,
Uma batalha de veias,
Um reboliço de ancas,
Quem diz outra coisa, é besta.” trollface

O próximo poema pode ser usado como um 'dicionário das palavras chulas dos 1600', tamanho o uso de gírias nela:

Necessidades forçosas da natureza humana

Descarto-me da tronga, que me chupa,
Corro por um conchego todo o mapa,
O ar da feia me arrebata a capa,
O gadanho da limpa até a garupa.

Busco uma freira, que me desentupa
A via, que o desuso às vezes tapa,
Topo-a, topando-a todo o bolo rapa,
Que as cartas lhe dão sempre com chalupa.

Que hei de fazer, se sou de boa cepa,
E na hora de ver repleta a tripa,
Darei por quem mo vase toda Europa?

Amigo, quem se alimpa da carepa,
Ou sofre uma muchacha, que o dissipa,
Ou faz da sua mão sua cachopa.

Tradução:
tronga = meretriz; prostituta, puta.
conchego = aconchego; conforto.
mapa = carta geográfica; aqui usada figurativamente como a relação de mulheres disponíveis ao seu desejo sexual.
arrebata = toma; tira violentamente.
capa = sobretudo; casaco. Também é usado na Bahia para designar a casca, a folha de fumo que envolve o charuto (que anatomicamente pode assemelhar-se ao pênis)
gadanho = unha; garra.
garupa = anca; bunda.
desentupa = desobstrua.
A via = conduto; caminho. (aqui tem o sentido figurado do pênis)
desuso = falta de uso (aqui figura como abstinência sexual)
tapa = obstrui
o bolo rapa = no jogo de cartas, o ato de levar todas as cartas (aqui o sentido é o de a freira o satisfaz plenamente, esvaindo-o de todo o sêmen que está acumulado em sua genitália).
com chalupa = com muita sorte; (no jogo de cartas chalupa são as três maiores cartas: o ás de espada ou espadilha, o ás de paus ou basto, e o sete de ouro ou manilha).
* Esta quadra diz figurativamente que Ao encontrar uma freira que o sacie sexualmente estaria ele com toda a sorte (assim como quem encontra a chalupa no jogo de cartas)
boa cepa = boa família; linhagem nobre.
repleta a tripa = (o pênis intumescido, pau duro)
mo vase = me sacie, me esvazie (no frêmito do desejo sexual o poeta admite dar toda a Europa para quem o sacie)
alimpa da carepa = limpar a caspa, a lanugem de frutos, limpar as aparas de madeira feitas pelo enxó (equivaleria hoje aos ditos populares "afogar o ganso" ou "descabelar o palhaço", centrando no órgão sexual masculino a ênfase do desejo sexual)
muchacha que o dissipa = rapariga, meretriz, prostituta, puta que o sacie sexualmente.
faz da mão sua cachopa = usa a mão para masturbar-se, transformando-a numa mulher, numa rapariga, numa meretriz.
** Tanto muchacha (espanhol) como cachopa (português de Portugal) significam raparigas no sentido de mulher jovem e bonita, mas também usadas como sinônimo de prostituta, meretriz, puta.
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Offline Rider
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#17
03-05-2014, 02:00 PM
Nesse poema, ele destroça praticamente TODA a sociedade brasileira baiana:

Finge que Defende a Honra da Cidade e Aponto os Vícios de Seus Moradores

Uma cidade tão nobre,
uma gente tão honrada
veja-se um dia louvada
desde o mais rico ao mais pobre:
cada pessoa o seu cobre,
mas se o diabo me atiça,
que indo a fazer-lhe justiça
algum saia a justiçar,
não me poderão negar
que por direito, e por Lei
esta é a justiça, que manda El-Rei

O Fidalgo de solar
se dá por envergonhado
de um tostão pedir prestado
para o ventre sustentar:
diz que antes o quer furtar
por manter a negra honra,
que passar pela desonra
de que lhe neguem talvez;
mas se o virdes nas galés
com honras de Vice-Rei,
esta é a justiça, que manda El-Rei

A Donzela embiocada
mal trajada, e mal comida,
antes quer na sua vida
ter saia, que ser honrada:
à pública amancebada
por manter a negra honrinha,
e se lho sabe a vizinha
e lho ouve a clerezia,
dão com ela na enxovia
e paga a pena da lei:
esta é a justiça, que manda El-Rei.

A Casada com adorno,
e o Marido mal vestido,
crede que este tal Marido
penteia monho de corno:
se disser pelo contorno
que se sofre a Frei Tomás
por manter a honra o faz,
esperai pela pancada,
que com carocha pintada
de Angola há de ser Visrei:
esta é a justiça, que manda El-Rei.

Os Letrados Peralvilhos
citando o mesmo Doutor
a fazer de réu o Autor
comem de ambos os carrinhos:
se se diz pelos corrilhos
sua prevaricação,
a desculpa, que lhe dão,
é a honra de seus parentes
e entonces os requerentes
fogem desta infame grei:
esta é a justiça, que manda El-Rei.

O Clérigo julgador,
que as causas julga sem pejo,
não reparando que eu vejo
que erra a Lei, e erra o Doutor:
quando vêem de Monsenhor
a sentença revogada
por saber que foi comprada
pelo jimbo, ou pelo abraço,
responde o Juiz madraço,
minha honra é minha Lei:
esta é a justiça, que manda El-Rei.

O Mercador avarento,
quando a sua compra estende,
no que compra, e no que vende,
tira duzentos por cento:
não é ele tão jumento,
que não saiba que em Lisboa
se lhe há de dar na gamboa;
mas comido já o dinheiro
diz que a honra está primeiro,
e que honrado a toda Lei:
esta é justiça, que manda El-Rei.

A Viúva autorizada,
que não possui um vintém,
porque o Marido de bem
deixou a casa empenhada:
ali vai a fradalhada,
qual formiga em correição,
dizendo que à casa vão
manter a honra da casa;
se a virdes arder em brasa,
que ardeu a honra entendei:
esta é a justiça, que manda El-Rei.

O Adônis da manhã,
o Cupido em todo dia,
que anda correndo a coxia
com recadinhos da Irmã:
e se lhe cortam a lã,
diz que anda naquele andar
por a honra conservar
bem tratado, e bem vestido,
eu o verei tão despido,
que até as costas lhe verei:
esta é a justiça, que manda El-Rei.

Se virdes um Dom Abade
sobre o púlpito cioso,
não lhe chameis religioso,
chamai-lhe embora de frade:
e se o tal paternidade
rouba as rendas do convento
para acudir ao sustento
da puta, como da peita,
com que livra da suspeita
do Geral, do Viso-Rei:
esta é a justiça, que manda El-Rei.
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Offline Ray Palmer
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#18
03-05-2014, 02:48 PM
(03-05-2014, 01:42 PM)Rider Escreveu:
Necessidades forçosas da natureza humana

Descarto-me da tronga, que me chupa,
Corro por um conchego todo o mapa,
O ar da feia me arrebata a capa,
O gadanho da limpa até a garupa.

Busco uma freira, que me desentupa
A via, que o desuso às vezes tapa,
Topo-a, topando-a todo o bolo rapa,
Que as cartas lhe dão sempre com chalupa.

Que hei de fazer, se sou de boa cepa,
E na hora de ver repleta a tripa,
Darei por quem mo vase toda Europa?

Amigo, quem se alimpa da carepa,
Ou sofre uma muchacha, que o dissipa,
Ou faz da sua mão sua cachopa.

Tradução:
tronga = meretriz; prostituta, puta.
conchego = aconchego; conforto.
mapa = carta geográfica; aqui usada figurativamente como a relação de mulheres disponíveis ao seu desejo sexual.
arrebata = toma; tira violentamente.
capa = sobretudo; casaco. Também é usado na Bahia para designar a casca, a folha de fumo que envolve o charuto (que anatomicamente pode assemelhar-se ao pênis)
gadanho = unha; garra.
garupa = anca; bunda.
desentupa = desobstrua.
A via = conduto; caminho. (aqui tem o sentido figurado do pênis)
desuso = falta de uso (aqui figura como abstinência sexual)
tapa = obstrui
o bolo rapa = no jogo de cartas, o ato de levar todas as cartas (aqui o sentido é o de a freira o satisfaz plenamente, esvaindo-o de todo o sêmen que está acumulado em sua genitália).
com chalupa = com muita sorte; (no jogo de cartas chalupa são as três maiores cartas: o ás de espada ou espadilha, o ás de paus ou basto, e o sete de ouro ou manilha).
* Esta quadra diz figurativamente que Ao encontrar uma freira que o sacie sexualmente estaria ele com toda a sorte (assim como quem encontra a chalupa no jogo de cartas)
boa cepa = boa família; linhagem nobre.
repleta a tripa = (o pênis intumescido, pau duro)
mo vase = me sacie, me esvazie (no frêmito do desejo sexual o poeta admite dar toda a Europa para quem o sacie)
alimpa da carepa = limpar a caspa, a lanugem de frutos, limpar as aparas de madeira feitas pelo enxó (equivaleria hoje aos ditos populares "afogar o ganso" ou "descabelar o palhaço", centrando no órgão sexual masculino a ênfase do desejo sexual)
muchacha que o dissipa = rapariga, meretriz, prostituta, puta que o sacie sexualmente.
faz da mão sua cachopa = usa a mão para masturbar-se, transformando-a numa mulher, numa rapariga, numa meretriz.
** Tanto muchacha (espanhol) como cachopa (português de Portugal) significam raparigas no sentido de mulher jovem e bonita, mas também usadas como sinônimo de prostituta, meretriz, puta.

Bão dimais. Aprendendo esse vocabulário, dá pra xingar e ainda se passar por culto!!! yaomingyaomingyaoming
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Offline Free Bird
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#19
03-05-2014, 07:43 PM
Que tópico Foda Rider! PQP!

Espero ter tempo pra poder contribuir ainda nesse semestre.
Malditos concursos hehehe,
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Offline Dr. Destino
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#20
06-05-2014, 09:52 PM (Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 06-05-2014, 09:56 PM por Dr. Destino.)
Bem... achei muito boa a iniciativa de criar um tópico sobre a real na literatura. Como contribuição vou indicar dois escritores que gosto muito e que aplicam a real direto na veia de quem lê : meus favoritos NELSON RODRIGUES E DALTON TREVISAN. É a real escancarada a todo momento. Indico as obras do Nelson : A vida como ela é, Anjo pornográfico e cabra vadia. Do Dalton indico : Cemitério de Elefantes, Guerra Conjugal e Desastres no amor. Mas aconselho que leiam todas as obras destes caras porque são mestres na real.Segue um recorte do Dalton trevisan da obra Guerra Conjugal :

Retirado do Conto : Senhor meu Marido

....Antes que João decidisse a mudança da Água Verde para o Bigorrilho, Maria fugiu com o amante e deixou um recado prêso em goma de mascar no espelho da Penteadeira :

"Sendo o senhor meu marido, um manso sem-vergonha, fique sabendo que logo venho buscar as meninas que são do meu sangue, digo meu sangue porque você não passa de um estranho para elas e caso o senhor não fique bonzinho eu revelarei o seu verdadeiro pai, não só a elas como a todos teus colegas do Buraco do Tatu, já cansei de ser apontada como culpada, digo isso para você deixar de ser cretino correndo atrás de rabo de saia[ como diz bem NA, elas invertem o jogo para culpar os homens],só desprezo é o que sinto por você, sabes muito bem que para mim você não é nada."

Onze dias mais tarde, Maria telefonou que era uma caridade ir buscá-la, doente e com fome, abandonada pelo Candinho [CAFA] na pensão de mulheres...

Acho que não preciso comentar porque já é bem direto o texto...

boa leitura a todos.

"Cum potestate Vincemus"
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