26-07-2014, 07:17 PM
UM MANDACHUVA
OS leitores que têm seguido estas rápidas notas sobre os usos e costumes, leis e superstições da República da Bruzundanga, não devem ter esquecido que o seu presidente é chamado "Mandachuva", e oficialmente.
[...]
É este homem que assim viveu a parte melhor da vida, é este homem que só viu a vida de sua pátria na pacatez de quase uma aldeia; é este homem que não conheceu senão a sua camada e que o seu estulto orgulho de doutor da roça levou a ter sempre um desdém bonanchão pelos inferiores; é este homem que empregou vinte anos, ou pouco menos, a conversar com o boticário sobre as intrigas políticas de seu lugarejo; é este homem cuja cultura artística se cifrou em dar corda no gramofone familiar; é este homem cuja única habilidade se resume em contar anedotas; é um homemdestes, meus senhores, que depois de ser deputado provincial, geral, senador, presidente de província, vai ser o Mandachuva da Bruzundanga.
É um homem metódico, pontual nos pagamentos, não gasta dinheiro em cousas inúteis, como seja em livros.
Ainda a música ele suporta um tanto, mas as tais exposições de pintura, as sessões de Academias... Irra! Que estafa!
[...]
A sua leitura continua a ser os jornais, porém não pega mais nos manuais, nos indicadores de legislação.
[...]
As necessidades artísticas de sua natureza se cifram no gramofone doméstico e nos cinemas urbanos ou do arrabalde em que reside. Faz coleção dos programas destes últimos e, com eles, organiza a sua opulenta biblioteca literária.
[...]
É conveniente lembrar que, nesse mesmo palácio, ao tempo em que a Bruzundanga era Império, executores famosos no mundo inteiro tinham tocado obras-primas musicais, no violino e no piano. Houve progresso...
Eis aí um Mandachuva perfeito.
NOTAS SOLTAS
Lá, na Bruzundanga, os Mandachuvas, quando são eleitos, e empossados, tratam logo de colocar em bons lugares os da sua clientela. Fazem reformas, inventam repartições, para executarem esse seu alto fim político.
[...]
- O doutor Sicrano já escreveu alguma coisa?
- Por que perguntas?
- Não dizem que ele vai ser eleito para a Academia de Letras?
- Não é preciso escrever coisa alguma, meu caro; entretanto, quando esteve na Europa, enviou lindas cartas aos amigos e...
- Quem as leu?
- Os amigos, certamente; e, demais, é um médico de grande clínica. Não é bastante?
[...]
No gabinete do ministro
- O senhor quer ser diretor do Serviço Geológico da Bruzundanga? pergunta o Ministro.
- Quero, Excelência.
- Onde estudou geologia?
- Nunca estudei, mas sei o que é vulcão.
- Que é?
- Chama-se vulcão a montanha que, de uma abertura, em geral no cimo, jorra turbilhões de fogo e substâncias em fusão.
- Bem. O senhor será nomeado.
[...]
A última nota solta
A habilidade dos governantes da Bruzundanga é tal, e com tanto e acendrado carinho velam pelos interesses da população, que lhes foram confiados, que os produtos mais normais à Bruzundanga, mais de acordo com a sua natureza, são comprados pelos estrangeiros por menos da metade do preço pelo qual os seus nacionais os adquirem.
OS leitores que têm seguido estas rápidas notas sobre os usos e costumes, leis e superstições da República da Bruzundanga, não devem ter esquecido que o seu presidente é chamado "Mandachuva", e oficialmente.
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É este homem que assim viveu a parte melhor da vida, é este homem que só viu a vida de sua pátria na pacatez de quase uma aldeia; é este homem que não conheceu senão a sua camada e que o seu estulto orgulho de doutor da roça levou a ter sempre um desdém bonanchão pelos inferiores; é este homem que empregou vinte anos, ou pouco menos, a conversar com o boticário sobre as intrigas políticas de seu lugarejo; é este homem cuja cultura artística se cifrou em dar corda no gramofone familiar; é este homem cuja única habilidade se resume em contar anedotas; é um homemdestes, meus senhores, que depois de ser deputado provincial, geral, senador, presidente de província, vai ser o Mandachuva da Bruzundanga.
É um homem metódico, pontual nos pagamentos, não gasta dinheiro em cousas inúteis, como seja em livros.
Ainda a música ele suporta um tanto, mas as tais exposições de pintura, as sessões de Academias... Irra! Que estafa!
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A sua leitura continua a ser os jornais, porém não pega mais nos manuais, nos indicadores de legislação.
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As necessidades artísticas de sua natureza se cifram no gramofone doméstico e nos cinemas urbanos ou do arrabalde em que reside. Faz coleção dos programas destes últimos e, com eles, organiza a sua opulenta biblioteca literária.
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É conveniente lembrar que, nesse mesmo palácio, ao tempo em que a Bruzundanga era Império, executores famosos no mundo inteiro tinham tocado obras-primas musicais, no violino e no piano. Houve progresso...
Eis aí um Mandachuva perfeito.
NOTAS SOLTAS
Lá, na Bruzundanga, os Mandachuvas, quando são eleitos, e empossados, tratam logo de colocar em bons lugares os da sua clientela. Fazem reformas, inventam repartições, para executarem esse seu alto fim político.
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- O doutor Sicrano já escreveu alguma coisa?
- Por que perguntas?
- Não dizem que ele vai ser eleito para a Academia de Letras?
- Não é preciso escrever coisa alguma, meu caro; entretanto, quando esteve na Europa, enviou lindas cartas aos amigos e...
- Quem as leu?
- Os amigos, certamente; e, demais, é um médico de grande clínica. Não é bastante?
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No gabinete do ministro
- O senhor quer ser diretor do Serviço Geológico da Bruzundanga? pergunta o Ministro.
- Quero, Excelência.
- Onde estudou geologia?
- Nunca estudei, mas sei o que é vulcão.
- Que é?
- Chama-se vulcão a montanha que, de uma abertura, em geral no cimo, jorra turbilhões de fogo e substâncias em fusão.
- Bem. O senhor será nomeado.
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A última nota solta
A habilidade dos governantes da Bruzundanga é tal, e com tanto e acendrado carinho velam pelos interesses da população, que lhes foram confiados, que os produtos mais normais à Bruzundanga, mais de acordo com a sua natureza, são comprados pelos estrangeiros por menos da metade do preço pelo qual os seus nacionais os adquirem.